Cego quando vê esmola grande desconfia. Por outro lado, abusar da hospitalidade constitui falta de bons princípios, de boa educação. Minha filha, Dani e o marido, Val têm uma casa em Gravatá, construída em terreno de família, casa bonita, cercada de árvores frutíferas, algumas raras, todas de boa cepa.
Receberam, sem quê nem mais, um trio de patos, um macho e duas fêmeas, de cor azulada, quase preta, grandes e de beleza incontestável. Acontece que não tinham a mínima vocação para ser domésticos. Por melhor que fossem tratados não eram gratos aos seus tutores pelas gentilezas recebidas.
Esses hóspedes passavam as noites ruidosamente, o macho com pinta de palhaço gargalhava as noites todas, inflando os pulmões para repetir alto o seu qua qua qua qua e os vizinhos incomodados reclamaram da zuada. Pobre dos tutores, que aguentavam a ladainha noturna sem ter para quem reclamar.
Essas aves, não se sabe como, evadiram-se do conforto e da segurança que desfrutavam, lembrando que não só raposas, cães vadios, e ladrões de galinha comem patos. Donos de piscinas utilizadas, sem autorização pelos fujões, adorariam vingar-se deles cometendo paticídio pelo prejuízo das cagadas em lugar proibido.
Os tutores indenizaram os prejudicados e presentearam os evadidos a um fazendeiro da família também advogado, que jura respeitar o direito desses animais de sonharem com a liberdade e tenta-la. O macho fugiu novamente, perambulando pelas lagoas, e agora foi visto liderando patos selvagens nas alturas siderais rumo às estrelas.

José de Siqueira Silva é Coronel da reserva da PMPE
Mestre em Direito pela UFPE e Professor de Direito Penal
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03/07/2025 às 15:35