Há sociedades doentes, enfermas, onde se ganha eleição com mentira e a vida humana vale menos que um tostão. Os mentirosos sobem criando inverdades, inventando lados que servem de maus exemplos, e se multiplicam sem que seus inventores acreditem neles. Os outros fazem fé, os seguidores matam e morrem por motivo de pouca monta, crendo obsessivamente que são valiosos e procedem.
Buscamos entender, porque deve ter alguma explicação, o que se passou na cabeça do jovem, quase adolescente, que tentou assassinar o ex-Presidente Donald Trump, ferindo-o perigosamente na orelha, quando falava em público, matando um bombeiro voluntário, lesionando gravemente duas pessoas e acarretando sua própria morte por um atirador de elite da segurança pública, tiro à distância que obstou qualquer diálogo entre o atirador criminoso e o Estado, inviabilizando-se, assim, a oportunidade valiosa do interrogatório.
Houve falha da segurança? Claro. Ao elaborar os planos de segurança o homem dialoga com a tecnologia, os serviços de inteligência, as revistas depurativas dos sintomas de violência do ambiente no qual deve atuar, protetor, sobre tudo preventivo, na garantia dos bens jurídicos que lhe incumbe resguardar.
Tarefa complexa, sujeita a eventos imprevisíveis ou previsíveis que não foram previstos, como os indicativos prévios, equivocadamente avaliados, dos atentados terroristas às Torres gêmeas e ao pentágono cuja prevenção o serviço de informação e as forças armadas não conseguiram efetivar. O discurso do ódio de que se vale Trump é um veneno que se alastra descontrolado entre as pessoas voltando às vezes contra quem o propagou. O uso do cachimbo entorta a boca.
Aprendendo-se a odiar, odeia-se sempre, em efeito perverso que não poupa pessoas inocentes. O atentado perturbou a normalidade do processo eleitoral democrático americano. Lembraria, terminando essa crônica, que plantar vento é arriscar-se a colher tempestade.
José de Siqueira Silva é Coronel da reserva da PMPE
Mestre em Direito pela UFPE e Professor de Direito Penal
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15/07/2024 às 11:16