Acredita-se, como diz a sabedoria popular com certa razão, que no início de uma relação amorosa tudo são flores. É preciso, entretanto, para ser feliz, cuidar em não se iludir, nem iludir os outros com a floração inicial nos jardins românticos da aproximação.
O roseiral pode murchar, desperfurmar-se, perder o encanto e restarem dele apenas troncos espinhosos e pétalas mortas cobrindo o chão dos caminhos. Lágrimas torrenciais no fim de uma relação frustrante, mal sucedida, irrompem dos sentimentos não correspondidos, do amor próprio ferido de quem ama sem ser amado. Chorar não restaura o que se perdeu ou o que talvez nem se haja perdido por não ter existido. Mas desabafa, é balsâmico.
Florinda (de flor), vivia fazia pouco tempo sob o mesmo teto com Augusto (que não era tão Augusto assim) e percebeu que o príncipe encantado dos seus sonhos estava mais para lutador de boxe, para algoz, intentando transformá-la em saco de pancadas. O comportamento ameno e atencioso do companheiro cedeu lugar à rudeza e à desatenção no trato. Era-lhe indiferente, se a desagradava ou não.
Florinda o escolhera para amar a vida inteira, mas a vida, que poderia ser curta, era demasiado longa para suportar ao seu lado. Rompeu a relação. Arriscou-se a chorar, e chorou. Corajosamente, fez o que havia de ser feito. Agora, sozinha, sente-se aliviada e livre para tentar novamente o amor. A razão burilou o sofrimento, o rio de lágrimas aos poucos ganhou feição de eventual goteira no telhado, só nos dias de chuva, porque nos de sol, o calor aquece o coração afugentando a tristeza. A dor perolizou o orvalho na madrugada prestes ao amanhecer.
José de Siqueira Silva é Coronel da reserva da PMPE
Mestre em Direito pela UFPE e Professor de Direito Penal
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26/08/2023 às 10:39