Na segunda-feira (05), o Blog do Andros e o Portal Hoje Pernambuco, site liderado por Gonzaga Jr, conversaram, nas primeiras horas da manhã, em um estabelecimento comercial situado na Reserva do Paiva, no Cabo de Santo Agostinho, com Elias Gomes.
O ex-prefeito do nosso Jaboatão e do Cabo, cidade onde estávamos, chegou usando camisa UV, de proteção contra o sol, boné e bermuda folgada, estava pedalando, pouco tempo antes, havia dado um mergulho, um belo mar de areias claras e águas azuis, com muitos coqueirais, fica próximo. Acordou cedo, já tinha realizado algumas tarefas de cunho profissional.
Na agradável conversa, acompanhada por café com leite, água, sanduíches, entre outras guloseimas, (Elias ficou apenas na água gelada, preferiu para refrescar o calor que tinha acabado de passar) o experiente político falou sobre a atual gestão de Mano Medeiros, que assumiu a Prefeitura do Jaboatão após a renúncia do então prefeito Anderson Ferreira para disputar o governo do estado. “Luiz Medeiros tem que decidir se será o prefeito da cidade para fazer valer uma governança diferente ou será um pau mandado dos Ferreiras”, disparou sem titubear.
Discorreu também sobre a influência do deputado André Ferreira na condução do mandato do seu aliado, do que os pernambucanos podem esperar do futuro governo Raquel Lyra, se será ou não candidato a prefeito em Jaboatão nas próximas eleições, e ao falar da candidatura de Anderson Ferreira ao Palácio, fez uma revelação: “Todos os candidatos, Marília, Danilo, Raquel, queriam que o adversário no segundo turno fosse Anderson. Porque Anderson era o adversário mais fácil de combater, por quê? Porque viriam para Jaboatão mostrar os gargalos dele.”
Abaixo o querido leitor acompanha a entrevista na íntegra…
Andros Silva: Você conhece o atual prefeito do Jaboatão Mano Medeiros. Ele foi integrantes da sua equipe quando comandou a cidade. Qual a avaliação que você faz dos seus poucos dias de gestão? E qual a diferença dele para Anderson Ferreira, prefeito anterior e do mesmo grupo político?
De fato, Luiz Medeiros, é assim que o conheço, tem uma relação de amizade com Evandro Avelar, que foi meu secretário de Infraestrutura. Foi através de Evandro que ele veio. Ele já havia assessorado Evandro, me parece, quando Evandro foi presidente do Consórcio Grande Recife. Eu não tive uma relação de proximidade com ele. Era mais no local de trabalho, de forma técnica. E nem sabia da relação dele com a política, só fiquei sabendo quando ele integrou mais de perto o governo de Anderson (Ferreira), aí foi que vi que ele tinha muita intimidade, muita proximidade. Inclusive chegando a ser Chefe de Gabinete. Não se chega a ser Chefe de Gabinete sem existir uma relação de extrema confiança. A minha avaliação é que ele é uma pessoa discreta e é um técnico. Claro que o comportamento dele no exercício do poder é diferente, a gente percebe, mas no ponto de vista do conteúdo, eu não vi diferença alguma. Eu não vi a melhoria dos serviços públicos. O que está na prefeitura até agora é a cara dos Ferreiras, os mesmos secretários, a mesma equipe, diria até as mesmas prioridades, aconteceu apenas uma mudança de atitude do prefeito empoderado que vai mais às ruas, mas isso não é o suficiente. Luiz Medeiros tem que decidir se será o prefeito da cidade para fazer valer uma governança diferente ou será um pau mandado dos Ferreiras. Se for isso, e me parece que será, pois como disse não vi nenhuma mudança, e nenhuma atitude de quem de fato quer governar, ir para a rua, tapar buraco, asfaltar uma rua, isso é mais do mesmo, isso não traz nenhuma diferença na qualidade de vida da população. Precisam de conteúdo concreto, de mudança, de transformação da cidade. Vamos acompanhar. Teve um ano de eleição, evitei fazer críticas, pois em ano de eleição pode soar de forma eleitoreira. Pra mim o governo de Luiz Medeiros não existiu durante este ano e se existir, a partir de agora, vamos observar e fazer as críticas que forem necessárias. Também quando tiver que merecer apoio, vamos apoiar, principalmente as medidas tomadas para o melhor da população. E digo mais, se ele fizesse uma reforma no governo, desse uma nova cara a esse governo, já de partida teria o meu apoio.
Gonzaga Jr: Anderson Ferreira se colocou candidato ao governo apresentando Jaboatão como cartão postal. A gente sabe que foi uma eleição muito polarizada e talvez por isso ele tenha conseguido atingir esse número de votos, ficando com o terceiro lugar. Fale sobre isso!
Anderson chegou a prefeitura com a intenção de usar Jaboatão como trampolim para ser candidato a governador do estado. No governo de sua gestão ele disse que seria: “o novo Eduardo Campos de Pernambuco” onde na verdade o foco dele não era Jaboatão, o foco dele não era administrar a cidade, o foco dele era usar essa cidade como um apoio para dá esse salto que ele acabou tentando dar. Se a candidatura dele fosse avaliada pelo resultado do seu governo em Jaboatão, ele não teria nem um terço dos votos que teve, porque qualquer político, qualquer observador da política, sabe que o governo dele foi medíocre na cidade, foi um governo que destruiu muita das conquistas, na saúde, no cuidado da cidade, dos bairros populares, da cultura, um negacionista culturalmente, diria. Para dá um exemplo concreto, quando saímos da prefeitura, deixamos Jaboatão no primeiro lugar do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), ultrapassando inclusive a capital do estado e ele entregou a prefeitura com Jaboatão no quarto lugar, ou seja, uma desconstrução da qualidade e da eficácia do ensino no município. Se ele tivesse sido ameaça a qualquer um dos candidatos, todos eles tinham munição. Eu inclusive orientei Danilo (Cabral, candidato ao Governo de Pernambuco pelo PSB e concorrente direto de Anderson Ferreira nessas eleições) para ir a locais onde devia visitar, pontos que deviam ser observados. Ele tentou enganar Pernambuco o tempo inteiro falando de um Jaboatão que não existe, só existia na cabeça dele. Ele tirou proveito em Pernambuco da imagem de Bolsonaro. Não do mérito dele.
Andros Silva: O fato ocorrido com Raquel Lyra, governadora eleita, que perdeu seu esposo no dia da eleição, interferiu de alguma forma no resultado? Deixando Anderson inclusive fora do segundo turno como disseram cientistas políticos ouvidos pelo Blog do Andros.
É difícil mensurar, porque o fato aconteceu no dia da eleição. Se tivesse acontecido na véspera seria mais fácil a mensuração. Eu, por exemplo, fui para um café da manhã com Danilo, ninguém lá comentou este fato, não sabiam, quando eu venho, escutando um emissora de rádio, lendo blogs, fiquei sabendo da notícia. Nós que estamos na política ficamos sabendo disso já no meio da manhã e o grande público não alcança isso tão facilmente. Havia um empate ali, de quem iria para o segundo turno, mas não sei se isso foi definitivo. Embora a força do bolsonarismo o colocasse (Anderson) nessa condição. Todos os candidatos, Marília, Danilo, Raquel, queriam que o adversário no segundo turno fosse Anderson. Porque Anderson era o adversário mais fácil de combater, por quê? Porque viriam para Jaboatão mostrar os gargalos dele.
Andros Silva: E até que ponto, o que foi feito de “negativo” por Anderson em Jaboatão, respingará agora na gestão de Mano Medeiros?
Mano é herdeiro, sucessor, ele participou do governo (enquanto vice-prefeito), participou de todos os momentos e práticas não republicanas, do desmonte das políticas públicas, do abandono das comunidades pobres, que eu já me referir aqui, portanto ele mantém uma equipe que não é a melhor equipe. Ele não terá apenas o bônus de assumir a prefeitura, mas também o ônus do que foi feito, do que não foi feito, das decisões tomadas pela gestão Ferreira. Se ele não mudar substancialmente a equipe, o rumo do governo, ele será ainda mais co-responsável e vai evidentemente responder por essas e por outras questões que certamente serão cobradas nesse biênio, que é um biênio que antecede o ano de eleição.
Andros Silva: Nos bastidores, muito se fala que quem dita as regras do mandato de Mano Medeiros em Jaboatão é a família Ferreira, que sofre muita influência de André. Acredita que isso de fato acontece?
Eu tenho indícios claros, para não dizer certeza, de que André mandava inclusive no governo de Anderson. Anderson é mais uma figura política, decorativa e André se comportava, se comporta, como um primeiro-ministro, fazia e faz a articulação política com os vereadores, tomava as decisões mais importantes e se era assim diante de quem foi eleito prefeito, imagine o poder que ele vai querer exercer, está exercendo, sobre alguém que estava na sombra e consegue por uma renúncia do titular, ser prefeito. É um prefeito que não foi votado para ser prefeito, portanto não tem luz própria e não tendo luz própria a influência dos Ferreiras, do André será evidentemente maior. Esse é um grande desafio que o Luiz Medeiros tem pela frente.
Andros Silva: Elias vem para a briga em 2024 com Mano Medeiros pela Prefeitura do Jaboatão, ou ainda é cedo para falar sobre isso?
(Risos)… Não serei candidato de mim mesmo, dizendo na rua que sou candidato. Esse debate eu vou fazer, naturalmente, mais adiante para ver quem será, ou quais serão os nomes que melhor estarão talhados para esse desafio. Vamos aguardar e mais para frente voltamos a falar sobre o assunto.
Gonzaga Jr: Falando em Partido. O senhor, até onde eu sei, está no MDB. O MDB lançou um candidato em Jaboatão com força, muito da sua influência, fazendo a ponte entre o candidato e o Partido, nas eleições 2020. Quem está no comando do MDB em Jaboatão? E o senhor continua até 2024 na sigla?
O MDB tinha uma comissão provisória, Daniel (Alves, ex-vereador e candidato a prefeito no Jaboatão) era presidente, saiu e o Partido decidiu colocar a minha disposição, nomear uma comissão provisória. Mas estava no ano de eleição e a gente pensou: “a eleição é estadual e vamos deixar passar essa eleição.” Eu estive com Raul (Henry, presidente do MDB em Pernambuco) semana passada e vamos retomar a questão da organização do partido para 2024. Vamos colaborar com a governadora eleita, o partido está em sua base e se eventualmente o partido tiver algum espaço para compor o primeiro escalão, o nome de Raul, como presidente, será o nome que unificará.
Andros Silva: Para encerrar. O que os pernambucanos podem esperar do futuro governo Raquel Lyra?
Acho que uma governadora determinada, de não delegar decisões. Vem de uma gestão bastante aprovada em Caruaru, resultados positivos em diversas áreas, na segurança, na saúde, acredito que ela vai reproduzir este governo de responsabilidade social no comando de Pernambuco, trazendo essa marca. Fará um governo que chegará de fato nas vidas das pessoas.
Andros Silva: Elias, muito obrigado… Gonzaga Jr: Agradecemos a presença Elias.
Eu que agradeço a vocês. Muito obrigado!
06/12/2022 às 12:24 – Por Andros Silva