O roteiro já é conhecido: políticos, em sua maioria, celebram suas vitórias com festas grandiosas, financiadas sabe-se lá como, onde o “presente” ao público são shows repletos de letras que desvalorizam mulheres, normalizam o desrespeito e propagam vulgaridades. O povo, enredado pela batida, dança, se entretem, “desce até o chão”, enquanto o político, do alto do palco ou em uma área VIP, celebra o futuro confortável que o poder proporcionará a ele e aos seus.
Mas o dia seguinte chega, e com ele a ressaca. Não apenas a física, causada pelo excesso de bebida, mas a da dura realidade que segue inalterada. A saúde pública, tão necessária, continua negligenciada. Faltam remédios no posto, médicos na emergência. As escolas públicas seguem abandonadas, incapazes de oferecer um futuro digno às crianças. As ruas estão esburacadas, a cidade afunda na falta de estrutura, e o transporte público, superlotado e precário, é um reflexo da indiferença dos gestores e seus colegas legisladores.
O mais irônico? Quem foi à festa “apocalíptica”, quem vibrou com o show, quem dançou e literalmente idolatrava o político, volta à sua vida de dificuldades, sustentando-se com um salário mínimo que mal cobre o essencial. São essas mesmas pessoas, as mais prejudicadas pela falta de políticas públicas efetivas, que aplaudem e defendem aqueles que nada fazem para mudar suas vidas. A pobreza avança, mas os políticos enriquecem.
Esse ciclo de entretenimento barato e promessas fúteis é cruel. Ele explora o cansaço e a carência de um povo que, em sua busca por momentos de alegria, acaba aceitando as migalhas como se fossem conquistas. A ilusão dura uma noite, mas a precariedade da vida dura anos.
Enquanto “vocês descem até o chão”, eles sobem na vida, construindo patrimônios, assegurando privilégios e perpetuando um sistema que os beneficia. A mudança não virá enquanto o povo não perceber que esses eventos vazios não passam de uma cortina de fumaça, uma distração para vender uma boa imagem ao público, que, na maioria das vezes, esquecerá de cobrar por progresso, lembrando apenas da falsa recepção recebida com sorrisos largos, tapinhas nas costas e fotos para as redes sociais.
As verdadeiras conquistas vêm de ações concretas que, se não transformarem por completo a realidade, ao menos ajudem a enfrentar as dificuldades cotidianas com dignidade.
23/12/2024 às 12:39 – Por Andros Silva