As carências humanas, entre elas a fome, não são incuráveis

A fome nega a existência total ou parcial de alimentos para suprir a necessidade mais básica das criaturas. Dissemina sofrimento pelo mundo sem se dar por vencida. Os alimentos ou não são produzidos ou são faltos na quantidade necessária ou se extraviam, são desviados no caminho da distribuição.

Perpetuar fome desafia o raciocínio da matemática, as leis da física, da química, da natureza, porque é o mesmo que multiplicar com zero aquilo que inexiste, ou seja, a suficiência de comida para todos. Zero multiplicado por zero é sempre igual a si mesmo. O verbo inexistir nesse caso refere aos alimentos, não aos que são privados deles.

Quanto mais gêneros alimentícios não forem produzidos, nem estocados, nem repartidos, maior será número de famintos, menores serão o esforço produtivo, a solidariedade, a inteligência da humanidade. Alimentar-se é absolutamente necessário às espécies de seres que partilham a convivência terrestre. Cristo ensinou que o nada é incomível, que os famintos são desrespeitados em sua dignidade, portanto multiplicou os pães e os peixes operando um milagre.

Deus ao construir o mundo dotou-o de condições bastantes para manter os seres vivos que foram criados. Aos humanos atribuiu o dom do raciocínio privilegiado sobre a capacidade de superação dos demais viventes. A humanidade não precisa operar milagres para viver dignamente. Basta que seus lideres prometam menos e realizem mais, que não malbaratem os ingredientes herdados da natureza para sobreviver. Que todos preservem o meio ambiente porque sua degradação ameaça a sobrevivência.

Que se desvencilhem da preguiça e da lei do menor esforço. Que se tornem imunes às más intenções, ao mau caratismo. Livrar-se da hipocrisia é como curar-se de um câncer que faz muito mal. É preciso aprender a ganhar o pão de cada dia com o suor do rosto e a partilhar com o próximo o que sobra ou não faz falta.

Dividir com os outros o de que precisamos, melhor ainda. Pratos vazios combinam com inércia, indolência, falta de iniciativa, desemprego, improdutividade. Os problemas da humanidade têm solução. Deus não a criou para que sucumbisse ante às dificuldades.

José de Siqueira Silva é Coronel da reserva da PMPE
Mestre em Direito pela UFPE e Professor de Direito Penal

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12/09/2024 às 21:12