Na era das fakes news, as redes sociais tornaram-se o canal de comunicação favorito dos adeptos das teorias conspiracionistas. No Brasil do Whatsapp só há espaço para a verdade que é conveniente. Na rede social que coloca o país no segundo lugar mundial, com mais de 120 milhões de usuários, faltam dados e sobram proposições infundadas. A fabricação de informação falsa ou enviesada, sob a forma de texto, áudio ou vídeo, pode transformar o mundo em um caos, em poucas horas.
Durante a pandemia da Covid-19, várias destas conspirações foram espalhadas por meio da plataforma digital, desde a criação do coronavírus em um laboratório de Wuhan, na China; passando pelo remédio de verme preferido do presidente Jair Bolsonaro como solução para o fim da doença, chegando até à mutação do DNA humano como sanção para quem se vacinasse contra a covid, assim como problemas de infertilidade e, até mesmo, infecção pelo HIV, o vírus causador da aids.
Mas por que falo isso? Há uma semana recebemos uma enxurrada de notícias quando abrimos nossos dispositivos eletrônicos, acerca da varíola dos macacos que, diga-se de passagem, não tem relação nenhuma com os primatas, pois a transmissão não está sendo feita por esses animais, e sim por seres humanos. A associação do vírus com o nome “carinhoso” de monkeypox, confere o medo de que pessoas saiam agredindo ou matando macacos por falta de esclarecimentos. Lembramos que isso já aconteceu em 2017, por exemplo, quando houve um surto de febre amarela. Mas não somente macacos morreram por conta de informações retorcidas.
Quando voltamos para os anos de 1980, falamos novamente da AIDS e relembramos da trajetória do vírus no Brasil. A prevalência de homossexuais infectados fez, dessa, a epidemia do preconceito. O “câncer gay” ou a “peste gay” estigmatizou essa parcela da população e o HIV foi visto como castigo de Deus, “porque bicha era uma raça desgraçada”; como assim circulava estampado em alguns jornais da época. Hoje, o resultado de toda essa hostilização advinda doutrora, dá ao Brasil o título de país com o maior índice de crimes por LGBTfobia.
Como se não bastasse, a varíola dos macacos também trouxe à tona a estigmatização da comunidade LGBTQIAP+, quando Tedros Adhanom, diretor da OMS (Organização Mundial da Saúde) espalhou, aos quatro ventos, que homens que fazem sexo com outros homens devem diminuir o contato sexual para combater o surto, como se qualquer outra pessoa exposta ao vírus, não pudesse contrair a doença.
Para evitarmos a disseminação da varíola da desinformação, precisamos distinguir que uma doença de contato – que pode ser transmitida pelo sexo – não é a mesma coisa que uma doença venérea; até porque as roupas também podem ser canais de contágio da varíola dos macacos.
Está mais do que provado que esta não se restringe ao grupo de pessoas LGBTQIAP+, quando a OMS passa a divulgar, nesta semana, o potencial de propagação, com transmissão comunitária entre outras populações, como mulheres e crianças. Qualquer pessoa está vulnerável, inclusive à discriminação, que pode ser tão perigosa quanto qualquer vírus.
O amor, a fraternidade e o respeito ainda são os melhores antídotos para combater qualquer tipo de discriminação. Nenhuma doença será erradicada se não for posto o fim ao vírus do ódio e do preconceito. E o Estado tem papel fundamental nesse combate, com ações efetivas e eficazes, além de dispositivos legais, que enfraqueçam as fakes news e permitam que informações corretas e precisas corroborem para uma sociedade mais justa e igualitária.
Isaltino Nascimento, deputado estadual e líder do governo na Alepe
03/08/2022 às 15:14
Tags IsaltinoNascimento LGBTQIAP+
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