São 6h20 da manhã e o trecho da BR-408 entre o bairro do Curado, em Jaboatão dos Guararapes (PE), e o Terminal Integrado de Passageiros (TIP) do Recife está lotado. Não de carro, de gente. Todos os dias, no início da manhã e no fim da tarde, uma multidão desce do bairro para dividir a faixa local com os carros e, sobretudo, os ônibus que chegam para deixar e buscar passageiros na rodoviária da capital pernambucana.
São pessoas de todos os perfis, mas com a mesma necessidade: praticar caminhadas e corridas. Como não têm nenhuma infraestrutura de lazer e esportes no bairro, correm na BR. É assim na BR-408 e também na BR-232. Os caminhantes dizem não ter opção.
No Curado IV, onde boa parte é ladeira e morro, moradores dizem que sequer há espaço para instalação de uma pista de caminhada, ainda que vez ou outra apareça algum político em campanha eleitoral prometendo o equipamento.
A solução, que já virou hábito entre os locais, é ir para as margens das rodovias. Na BR-408, no trecho próximo ao TIP, a prática é favorecida pela existência de uma via local, diminuindo a exposição e o contato tão próximo com os veículos. Chegar lá, por outro lado, exige habilidade de andar no acostamento e atravessar uma área sem faixa de pedestres.
Ir para a BR foi a única forma que o assistente de logística Samuel Silva, 38, encontrou de começar a praticar algum exercício. Morador do bairro do Curado há 20 anos, recebeu há sete um ultimato do médico: precisava fazer alguma atividade física para regular o peso. Estava com um desgaste patelar no joelho. Samuel olhou para os lados e não viu como executar os planos traçados pelo profissional. Foi então que decidiu ir ou voltar correndo do trabalho, na avenida Abdias de Carvalho — a via que liga o Recife ao agreste — todos os dias.
Saía, geralmente no fim da tarde, e tomava o rumo pelo acostamento. Eram cerca de 4km até lá, caminho que fazia com um medo justificado. Há motoristas compreensivos, que passam acenando, gritando palavras de incentivo. Bora, bora, corredor! Contudo, há outros prontos para amedrontar. Buzinam sem piedade quando chegam perto, passam jogando água das poças ou colocam o veículo colado no acostamento, para intimidar. “Quando é de manhã cedo, tem uns que gritam: ‘vai dormir! Não tem o que fazer, não?’
Samuel não se intimidou. Continuou a corrida, transformou em hábito, perdeu 19kg, chamou a atenção de um grupo oficial de corrida do bairro e hoje é corredor profissional. Tudo começou na estrada, sua pista oficial de treinos até hoje.
22/07/2021 às 10:39 – Do Tab UOL. Leia a matéria completa no site, clique aqui.