Temoroso de receber notícias ruins, apressadas em preceder as boas, quebrei o celular e atirei os destroços às águas poluídas do Rio Capibaribe.
Peixes não telefonam, não inventam notícias com cara de verdade para afligir os outros, não aplicam golpes à distância, não esperam comunicações de entes queridos que silenciam de propósito para mostrar desprezo, malquerência. Nenhuma ofensa a fauna aquática, presumi. Nenhum sentimento de culpa em fazer do rio depósito de lixo, fonte de aborrecimento e desinformação, restos de conversas inaproveitáveis.
Dias depois recebi pelos Correios uma carta molhada, escamas podres e pernas de barata, odor nauseabundo de incompetência e corrupção. Comunicava-me aquela empresa pública seu naufrágio em imenso lamaçal e se desculpava pelo indesculpável. Percebi de início que as escamas eram um disfarce, fraude sem o mínimo potencial iludente.
Peixes morrem de fome, mas não se corrompem, não imitam a bandidagem da humanidade, nem participam dela.

José de Siqueira Silva é Coronel da reserva da PMPE
Mestre em Direito pela UFPE e Professor de Direito Penal
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17/12/2025 às 10:18
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