Tive um pesadelo esmagador, toneladas e mais toneladas de sofrimento. Sonhei que emigrara para outro país havia tempo, buscando trabalhar, produzir e amealhar riqueza o bastante para viver condignamente. Agora retornava para o Brasil junto a 88 brasileiros desiludidos, expulsos da terra ingrata como se fôssemos bandidos, desapossados de todos os pertences, como se fossem objetos de roubo ou furto, conservando só a roupa do corpo, porque seria demasiada descompostura transportá-los nus.
Acreditávamos, no torpor do sonho, que um ser humano moldado à semelhança de Deus jamais fosse capaz de ordenar tanta iniquidade. A criatura, amparando-se no livre-arbítrio, desasemelhou-se do Criador, esmerou-se na tirania, espelhou-se no modelo “quanto pior, melhor”. Os imigrantes voltaram ao Brasil tendo como alimento só água, usando algemas, calcetas e correntes nos tornozelos, como se o ordenador da expulsão pretendesse impor-lhes a vergonha da desconsideração.
O transporte aéreo dos imigrantes pousou em Manaus, onde outra aeronave o substituiria para levá-los a Minas Gerais, mas a Polícia Federal interferiu, por ordem do Ministro da Justiça, determinando que os conduzidos fossem “liberados” dos constrangimentos ilegais no território do Brasil e transportados respeitosamente em avião da Força Aérea Brasileira.
Despertei desse pesadelo horrível, ainda crendo que os fatos eram inconcebíveis. Amei como nunca a pátria gentil.

José de Siqueira Silva é Coronel da reserva da PMPE
Mestre em Direito pela UFPE e Professor de Direito Penal
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29/01/2025 às 15:19