Relatividade na questão do tempo

À meia-noite exatamente de 31 de dezembro, comemorávamos a chegada do ano 2025 e a partida de 2024, misturando o novo e o velho. No final, pontualmente às 24h, começava o hoje, mas o que era ontem virava hoje sem intervalo temporal, porque inexiste descontinuidade na ampulheta do envelhecimento e do rejuvenescimento, a saudade do que passa e a esperança do que chega, nada permanecendo no presente que, de tão fugaz, ao acontecer, já se tem como acontecido.

A cabeça da humanidade se confunde, entra em parafuso, e até parece não haver cabeça na oportunidade em que se superpõem os anos, qual tijolos, na edificação dos séculos e dos milênios, saudosa do que foi, esperançosa do porvir, indecisa sobre se chorar ou se sorrir. Os jovens, demasiadamente jovens, anseiam por avançar na idade, buscando liberdade, respeito. Os muitos idosos apegam-se a uma juventude que não lhes pertence, angustiam-se pela proximidade da morte como se consequência exclusiva deles, na sua etariedade.

Uma jovem, ontem, na passagem para hoje, entristeceu-se, chegou às lágrimas, não se sabe se chorou com saudade dela mesma. O seu estado de tristeza era indecifrável, mas fez ar de triste, franziu a testa, fechou os olhos, tampou os ouvidos, para não ver nem ouvir o foguetório comemorativo da alegria do próximo, que para ela não fazia sentido. Um ancião espiritualizado agradeceu a Deus pelos 100 anos de vida bem vividos, acomodou-se no leito e dormiu. O nascer do sol, avizinhando-se pela madrugada, não dependia dele, entretanto, seu otimismo interpretava-o como prenúncio de um novo dia na sua já extensa existência.

José de Siqueira Silva é Coronel da reserva da PMPE
Mestre em Direito pela UFPE e Professor de Direito Penal

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02/01/2025 às 15:04