Foto: CNN Brasil

“Não fales aos ouvidos dos insensatos, porque eles não vos ouvirão.” A ponte caiu, a Bíblia tinha razão

Inaugurada no século XX, nos idos de 1960, a ponte JK sobre o rio Tocantins suportou toneladas de progresso que viajaram por sobre ela, gerando acumulação e circulação de riquezas, projetos e sonhos ainda inacabados. Não suportou, entretanto, o descaso e o abandono do poder público. As estruturas sólidas de pedra, ferro e cimento, submetidas ao estresse intenso e diário do uso sem manutenção, foram corroídas, tornaram-se precárias, fragilizaram-se e cederam ao chamamento da correnteza do rio, hipnotizadas pela sonoridade e a profundidade das águas.

Pessoas que trabalhavam, dirigiam veículos de carga ou de passeio, divertiam-se vendo a estrada passar, surpreenderam-se ao descobrir que passageiros eram todos, na sua impermanência de vida, em paisagens e sensações misteriosas que estranhos não podem esclarecer ou narrar. Em 2024, muitos foram os acidentes nas vias aéreas, marítimas e terrestres dos transportes no mundo, causando até medo de viajar.

As rodovias brasileiras destacaram-se como campeãs de mortalidade, por falta de cuidados ou por erros originários do seu traçado. A ponte JK, após mais de meio século de glória servindo ao Brasil, teve seus limites de serventia esgotados e ruiu em estrondoso protesto de suas estruturas contra a teimosia da inércia dos governos em provê-la da necessária manutenção e dos reparos reclamados pelo povo ante a precariedade evidente, com risco óbvio de uma tragédia.

O desfecho terrível, previsível e anunciado aconteceu. Agora surgem, travestidos de bons moços, ao cenário ruinoso da sua lavra, aqueles que ceifaram tantas vidas e cassaram tantos sonhos. Simulam consternação, que nem de longe sentem, e prometem reconstruir uma travessia moderna e segura tão rapidamente como a que os gaúchos construíram no Rio Grande do Sul às suas próprias expensas nas últimas enchentes.

O ministro dos Transportes garantiu a reserva de 100 milhões nos cofres da União para religar o Tocantins ao Maranhão. A liberação dos recursos, por “economia e genialidade”, esperou a ponte velha ruir, economizando gastos com sua demolição. Todos prometem esforços para resgatar as vítimas, nenhuma viva, disponibilizando bombeiros, mergulhadores e equipamentos da Marinha para as buscas e resgate na profundidade média de 50 metros, tão logo cessem os supostos riscos à vida daqueles que procuram os corpos submersos para identificar e devolver aos familiares.

Quem morreu espera resgate e sepultamento sem pressa, porque não morrerá novamente. Ninguém sabe qual o pior para o Brasil: se a queda da ponte, com os prejuízos consequentes, ou a permanência nos cargos públicos dos responsáveis por sua falta de manutenção. Um inquérito instaurado terminará concluindo que o culpado de tudo foi o tempo; portanto, seja ele condenado pelos danos de sua corrosividade. Mais ninguém teria tido culpa. E o mundo segue assim mesmo, por todo o sempre. Acorda, Lula, demite esses irresponsáveis.

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José de Siqueira Silva é Coronel da reserva da PMPE
Mestre em Direito pela UFPE e Professor de Direito Penal

Contato: jsiqueirajr@yahoo.com.br
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06/01/2025 às 10:14

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