Amom Lima. Fotos: Andros Silva

Em conversa com o Blog do Andros, Amom Lima detalha saída do gabinete de Armando Júnior e expõe mágoas na política dos Curados


Uma entrevista direta, firme e sem rodeios marcou a conversa de Amom Lima, 51 anos, com o Blog.

Servidor efetivo da Prefeitura do Jaboatão há três décadas, concursado desde 1995, o evangélico da Assembleia de Deus, bastante querido e respeitado no segmento, ganhou visibilidade ainda maior após atuar na campanha vitoriosa que levou Armando Júnior à Câmara. O trabalho o conduziu ao cargo de chefe de gabinete do vereador, função que ocupou até recentemente.

No primeiro andar de um restaurante às margens da BR-408, na altura do KM 100, logo depois da Arena de Pernambuco, já em São Lourenço da Mata, espaço que ele afirma ser ponto frequente de boas conversas sobre a política dos Curados, Amom não hesitou em revelar a decepção com o antigo aliado.

Em um ambiente quase vazio, sua voz, que por vezes ultrapassava os limites da mesa onde almoçávamos, ganhou ainda mais força ao tratar de sua saída do gabinete e do rompimento entre o vereador e o deputado federal que tanto o ajudou. “Foi uma injustiça o que Armando fez com André”.

Ele também falou sobre como todo o processo negativo abalou não só a ele, mas a própria família. “As minhas noras pediram para transferir o título para Jaboatão só para votar em Armando. Isso mexe com a família, cara. Minha família ficou muito triste.” Abaixo, os principais trechos da conversa.

Foto: Andros Silva

Andros Silva – Amom, você ganhou visibilidade ainda maior após atuar na campanha vitoriosa que levou Armando Júnior à Casa Vidal de Negreiros. Então, sem perder tempo, vamos direto ao assunto. Como você conheceu Armando?

Amom Lima – Eu conheço Armando desde a minha adolescência, a gente morou no mesmo bairro. Ele militava de um lado, e eu de outro. Ele foi assessor do ex-vereador Louro e rompeu com Louro, saindo candidato na eleição seguinte. (Edson Severiano de Oliveira, conhecido como Louro, foi assassinado a tiros em 28 de setembro de 2018)

Você lembra o ano?

Foi em 2016, quando Anderson (Ferreira, ex-prefeito do Jaboatão) estava chegando. Armando perdeu a eleição, e quando foi em 2017, a convite de André Ferreira (deputado federal e irmão de Anderson), fui trabalhar na Regional 3, Curados, saindo da minha secretaria, ficando à disposição da regionalização. E aí foi quando a gente teve mais afinidade, começou a trabalhar junto. Mas naquele ano eu não fiquei com Armando ainda. Armando saiu novamente candidato a vereador, obteve 2.300 votos, eu acho, e eu fiquei com Eurico Moura (atual vereador). Eurico me fez o convite, ele veio ser o gerente da Regional, e aí a gente trabalhou com Eurico na eleição. Naquela eleição, Eurico teve 525 votos nos Curados. É difícil trazer um candidato de fora para dentro dos Curados, os eleitores dos Curados são muito bairristas.

Você me pareceu bem dedicado à campanha. Quanto você associaria à sua imagem essa vitória de Armando?

Andros, é difícil a gente fazer isso, até porque hoje quem é representado nas urnas é Armando Júnior, mas a gente sabe que teve um grande peso. Agora eu fiquei até constrangido quando Armando foi eleito. A gente foi para o Complexo (administrativo da Prefeitura do Jaboatão), chegou a ir na Câmara, e quando eu chegava na Câmara os vereadores me chamavam, a exemplo do Nado do Caminhão, e diziam: “Olha aí o grande mentor de Armando Júnior”.


Nado disse isso?

Sim, e isso pesa, não é? E traz ciumeira.

“Ciumeira” de quem? De Armando?

Do próprio Armando, é natural do ser humano. Mas o próprio Armando atribuiu muito o sucesso dele à minha pessoa, e digo com muito orgulho que sou muito respeitado pelos vereadores dos Curados, Márcio, Biro Biro, o próprio Armando, e isso me deixa feliz. O maior ganho é isso, sabe? É ter deixado um legado na história dos Curados. Armando foi o mais votado da história dos Curados, antes ele passou por duas eleições, não obteve sucesso, e quando a gente decidiu apoiar a causa, né, a gente teve esse feito. A música foi uma escolha minha, o título da música é “Ele é Trabalhador.”

O slogan da campanha?

Sim. O slogan da campanha. Eu conheci um marqueteiro lá da Bahia, a gente trocou uma ideia online, e ele fez uma música para Armando. A música contava toda a trajetória de Armando Júnior, inclusive por onde a gente passava. Ficou na mente, aquele chiclete de “Ele é Trabalhador”, contando a história. Foi bem legal.

E os discursos também?

Do slogan ao discurso. Ainda hoje, se você observar, Armando não é muito bom de discurso. Na Câmara mesmo eu falava assim para ele: “Armando, vai lá, pede a palavra, fala isso”, mas ele não tem muita desenvoltura, e a gente teve que lapidar os discursos que eram feitos. Eu sempre iniciava os discursos, para que ele pegasse o vácuo dos discursos, e colou. Pegou na mente dos eleitores dos Curados.

Ele era de difícil convivência?

Armando tem muitas virtudes, mas tem também muitos defeitos, e um dos defeitos que é ruim para um líder é não saber ouvir. Muitas vezes ele não quer, ele não quer ouvir a opinião. E por incrível que pareça, no momento em que ele me ouviu foi o momento crucial, e ele sabe disso. Quando essa matéria for ao ar, ele vai ler, ele vai saber o que eu estou falando.


E sobre ele deixar de apoiar André Ferreira? Pelo que vejo, você não foi favorável.

Eu não fui favorável. André cumpriu integralmente tudo. Eu pedi muito a Armando para Armando não romper com André Ferreira. A gente tinha projetos grandes, cara, iríamos trazer a Compesa. A gente foi na Compesa fazer uma reunião com o presidente da companhia para a implantação do sistema de saneamento de um loteamento do Curado. Projetos grandes, que eu acredito ser o anseio da comunidade, entendeu?

Diria que Armando traiu André Ferreira quando o deixou para apoiar Guilherme Uchoa?

Com certeza, com certeza. Até agora ele não ligou para André. Quando aconteceu, André me ligou, eu estava indo para o Complexo. Ele me ligou e disse: “O que foi isso?” Eu disse: “Deputado, eu estou tão surpreso quanto o senhor”. Foi uma injustiça o que Armando fez com André, cara. André ficou muito chateado. Muito chateado.

Você se sente traído por ele também? Já que disse ter ajudado tanto na campanha e ter sido rifado pouco tempo depois da vitória do seu cargo de chefe de gabinete?

Eu me sinto traído por Armando. Eu não vou colocar aqui, assim… Seria até falta de ética da minha parte colocar tudo do meu investimento, eu falo até financeiro, não só em intelecto, na campanha.

Você colocou dinheiro na campanha dele?

É, porque a partir do momento, por exemplo, a música, como eu falei. Foi todo um investimento nosso. Inclusive, ele até chegou a chorar quando eu cheguei dentro do carro e coloquei a música. Eu bati no peito dele e disse: “Olha, esse choro, cara, transforma em alegria que você vai ser vencedor.” A gente ia começar a campanha.

Foi uma profecia!

Pois é. E aí, assim, por que eu me sinto traído, cara? Porque, veja, houve um conflito. Houve um conflito na minha gestão como chefe de gabinete. Tendo interferências. Hoje, o mandato de Armando é muito familiar. A esposa, o filho. E aí acaba interferindo em algumas decisões.

Foto: Cortesia

Os familiares influenciam muito?

Isso, principalmente a esposa dele. E o que é que acontece? Eu estava sentindo dificuldade de gerenciar o gabinete. Para você ter uma ideia, eu não estava sendo convidado para as reuniões. Como é que eu sou chefe de gabinete, fui coordenador da campanha e não pude participar das reuniões? Aí fui e coloquei: “Se continuar dessa forma, eu não vou poder mais ser seu chefe de gabinete.”

Você jogou o cargo na mesa.

Isso, e ele não pensou duas vezes. Dá a entender que era ele que estava planejando isso para me rifar, mas de uma forma que ele ficasse bem na fita, de boa.

Que parecesse que foi você que pediu para sair?

Isso. E qual era o meu pensamento? Era que ele resolvesse esse conflito. Mas deu a acreditar que ele estava esperando isso acontecer para que eu fosse rifado.

Te abalou de alguma forma este rompimento?

Claro, com certeza, cara. Porque assim, foi um projeto que a gente iniciou. Eu fui convidado por Armando Júnior para ser o coordenador da campanha três meses antes da campanha. Eu sou servidor, como eu te falei, servidor efetivo da Prefeitura. E a gente tem um benefício de que, a cada dez anos, se você não cometer nenhuma irregularidade, você é agraciado com uma licença chamada Licença Prêmio, onde você tem direito a passar seis meses fora da Prefeitura recebendo seu salário, tá? Você pode pedir um mês, dois meses, três meses, e eu pedi três meses, 50% dessa licença minha, onde eu podia dedicar à minha família, a mim mesmo, para ficar dedicado exclusivamente a Armando Júnior. O meu carro ficou 24 horas à disposição de Armando Júnior. A minha esposa, os pais dela são de Bom Jardim, inclusive eu tenho uma outra residência lá, e a gente passou três meses sem ela dar a bênção, só por telefone. Então até hoje a minha família diz: “Olha Amom, se hoje Armando Júnior te chamasse e dobrasse o que tu tinha, eu não quero que você volte.” Meus filhos e minha esposa falam isso, sabe, Andros. As minhas noras pediram para transferir o título para Jaboatão só para votar em Armando. Isso mexe com a família, cara. Minha família ficou muito triste.

Foto: Cortesia

Você acreditava que estaria com ele até o final do mandato?

Andros vê, eu estive com um secretário da gestão do prefeito Mano Medeiros. Vou preservar o nome dele. Ele é muito ligado a André Ferreira. Conversando comigo, ele disse, “Amon, ele já tem essa fama, já tem um histórico de traidor.” Andros, quando Armando ganhou a eleição, no outro dia eu disse, “Armando, eu vou deixar tu, curtir com tua família a tua vitória, uns 15 dias, tá? Depois de 15 dias a gente volta e conversa novamente.” Só que no outro dia ele me ligou e me convidou para casa da mãe dele. Quando eu entrei, o filho dele já disse, “aí meu chefe de gabinete”, aí eu disse “rapaz, acaba com essa conversa que teu pai pode ouvir, e pode não gostar”. Aí ele disse, “foi painho mesmo que já anunciou aqui para mainha, voinha, para todo mundo aqui que tu vai ser o chefe de gabinete dele.” Mas dentro de mim, eu tinha, essa desconfiança que eu não ia até o final.

Amom, obrigado por dedicar um tempinho aqui para o Blog do Andros e conceder essa entrevista direta e reveladora.

Quero agradecer o convite que me foi feito para estar aqui. Eu sou um admirador do seu trabalho, do blog, acho que sempre faltou isso em Jaboatão, a gente conhece outros, mas em Jaboatão em específico, é um blog que traz muita coisa e eu fico sabendo muitas coisas através do seu Blog, então muito obrigado e que Deus continue abençoado seu trabalho.


No detalhe: O Blog do Andros permanece com espaço aberto para qualquer nome citado na publicação.


27/11/2025 às 19:28 – Por Andros Silva

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